"Grandes almas sempre encontraram violenta oposição de mentes medíocres" - Albert Einstein

terça-feira, 29 de julho de 2008

Os elementais estão sempre por perto... Narciso

27/03/08 - O evento seguinte à borboleta: A Flor de Narciso, presenteada pela minha vizinha.

A mitologia nos conta a história de Narciso, belo jovem pelo qual muitos se apaixonam, mas que rejeita qualquer relacionamento. O jovem que um dia se depara com a própria imagem refletida no lago e por ela se apaixona. Uma história de amores impossíveis, de imagens que enganam e, sobretudo, uma história que fala de autoconhecimento e transformação. Sim, e a transformação é muito importante, pois não podemos esquecer que essa história aparece no livro “As Metamorfoses” de Ovídio que relata, entre outras tantas metamorfoses da mitologia também, a de Narciso.
Ovídio nos conta que Narciso era um jovem de beleza sem igual, cujo rosto é comparado a uma estátua de mármore de Paros. Conta também que muitos jovens e muitas jovens o desejavam, “mas tanta – tão rude soberba acompanhava suas formas delicadas – nenhum jovem, nenhuma jovem o tocara”. Narciso rejeita e repele com especial rudeza a ninfa Eco, que por ele perdidamente se apaixonara.
O DSM IV descreve aqueles que sofrem do Transtorno de Personalidade Narcisista como tendo “um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia”. Entre outras coisas, como atitudes arrogantes e insolentes, cita também como características da personalidade narcisista uma crença de ser “especial” e único, possuindo expectativas irracionais de receber obediência automática às suas expectativas, além de serem insensíveis, superficiais e não-empáticos. Essa última característica me chama atenção. A ausência de empatia, a relutância em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias. Como acabei de dizer sobre Narciso: de tão centrado em si, rejeita o envolvimento com o outro. As patologias descritas nos manuais de psiquiatria sempre existem em maior ou menor grau em todos nós, então vale a reflexão: Quantas vezes não fazemos isso em nossas vidas? Queremos (ou até acreditamos) que o mundo gire ao redor de nossos umbigos. E isso se dá tanto no plano individual quanto no coletivo. Como é fácil, centrados em nossas crenças, acusarmos o outro (de outra religião, de outra crença, de outros povos) de coisas que não nos damos conta de fazer também...
Voltando ao mito, é justamente a dificuldade que Narciso tem em se relacionar e se colocar no lugar do outro que desperta a raiva de todos à sua volta e que culmina com a maldição de Nêmesis: “que ele ame e não possa possuir o objeto amado”. Realmente, quem (tendo um dia se relacionado com um narcisista) nunca se sentiu tão rejeitado, tão incompreendido por alguém que desejou: “tomara que um dia você possa sentir o mesmo que estou sentindo”. – uma maldição que pode ser uma bênção, pois pode propiciar a metamorfose. E aí então Narciso se depara com a própria imagem refletida no lago e se apaixona: num primeiro momento, Narciso não percebe que é sua própria imagem que vê (como quando passamos distraídos por nossa imagem refletida num espelho e nos assustamos, achando que tem alguém ali) e depois ele se dá conta e percebe que está diante de si mesmo - claro, pois não se conhece! Tirésias fora consultado por Liríope (mãe de Narciso) com a seguinte pergunta: Narciso viveria muitos anos? A resposta foi: Se não se conhecer... Se não se vir... É no momento do insight em que percebe tratar-se de si próprio que o que Tirésias havia previsto se concretiza: depois daquilo, ele já não pode mais ser o Narciso que era. Depois dali ele precisa mudar... A transformação... A metamorfose. Muitos dizem que Narcisismo é excesso de amor próprio, excesso de auto-estima. Penso que é justamente o contrário. O narcisismo é a condição na qual uma pessoa não se ama (daí a diferença entre auto-estima adequada e narcisismo – esse último é uma defesa). É na água, nesse elemento de sua herança natal (já que ele é filho de uma ninfa com um rio) que aquele Narciso duro e impenetrável pode recuperar sua umidade natural e sua fria auto-absorção se transformando em amável diálogo com o mundo. E então ele torna-se flexível, belo, enraizado – transforma-se em flor. Por Leticia Capriotti

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